quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A seca e a falta de leite

Ramalho Leite

Advogado, jornalista e escritor, ex-deputado federal.



A seca e a falta de leite 2 (Crédito: .....)
Nascido e criado no brejo, tinha noticia da seca no sertão, quando grupos de homens, mulheres e crianças, maltrapilhas e famintas, chegavam dia de feira em busca de alimento, tangidos pela inclemência da estiagem. Esse cenário remoto pode ser revisitado hoje, apenas nas paginas de A Bagaceira, com as tintas da tragédia pintada por Jose Américo de Almeida. As invasões às cidades e os saques às feiras livres e ao comercio foram contidas pela politica social do Governo Federal, que, se não resolve o problema da subsistência humana, pelo menos ameniza a fome e acalma a quem tem sede. Nessa hora de aflição, bendita Bolsa Familia...
Dizem os especialistas que acompanham a reincidência do fenômeno climático que este ano estamos assistindo a maior seca de todos os tempos. Na boca de quem sofre, o panorama mais grave é sempre aquele que se está vivendo. Todos sabem que o fenômeno se repete ciclicamente, e mesmo assim, avisados previamente, a cada crise, o homem do campo se depara com os mesmos problemas e reclama as mesmas soluções, sejam transitórias ou definitivas. Quase sempre, surgem as paliativas...

Por conta da seca surgiu o IFOCS, depois o DNOCS, a SUDENE e o BNB e mais recentemente um Instituto do Semiárido que se instalou em Campina depois de muita disputa regional, mas que ainda não se sabe a que veio. Desde Pedro II, que prometeu vender as joias da Coroa, passando por Médici e chegando a Lula e Dilma, mudaram as pessoas mas o sofrimento continua o mesmo. As frentes de emergência foram transformadas em Bolsa Estiagem mas as obras estruturantes que permitiriam ao nordestino sobreviver à seca, continuam em berço esplendido, a exemplo da transposição de aguas do São Francisco para estas bandas.

Essas constatações abalaram minha tentativa de convencer produtores de leite da agricultura familiar a refazer sua parceria com o Governo Estadual visando restabelecer a entrega de 120 mil litros de leite diários a famílias em risco de segurança alimentar. Ouvi relatos constrangedores e criticas contundentes. Infelizmente só ouvi verdades e tenho certeza que muitos não revelaram todo seu padecimento. Julguei que desviavam o produto dos seus rebanhos para outros compradores e descobri que muitos, nem rebanho têm mais. A estiagem transformou em deserto chiqueiros e currais.

O governo lançou programa de distribuição gratuita e venda subsidiada de ração animal. Bem alimentado, o que sobrou do rebanho pode produzir mais leite e abastecer o programa Leite da Paraiba. Mas também foi dito que muitos produtores não puderam atender à nossa convocação por absoluta falta de meios para o seu deslocamento. Alegam que, descapitalizados, não podem nem mesmo arcar com a metade do pagamento da ração. E fulminaram: nós confiamos no governo e entregamos nosso leite para receber não se sabe quando... O governo não confia em nós, temos que pagar adiantado para alimentar nossas cabras...

Essa queixa nos levará à procura de uma solução que garanta a quem tem contrato de fornecimento de leite ao programa, a certeza de que seu rebanho não morrerá de inanição. A confiança terá reciprocidade.

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